Dentro da história das Copas, a Coreia do Norte sempre foi vista como um mistério. Algo que havia passado, mas fora intenso. Tudo devido à sua participação na Copa de 1966, tão fugaz quanto inesquecível. Afinal de contas, a equipe treinada por Myung Rae-Hyun começou de modo discreto, perdendo por 3 a 0 para a União Soviética e empatando em um gol com o Chile.
Parecia que o time cumpriria de modo até satisfatório sua tarefa de ser apenas figurante. Tudo mudou naquele 19 de julho, em Middlesbrough, quando Pak Doo-Ik colocou seu nome na história ao marcar o gol da vitória sobre a Itália, que eliminou a Azzurra da Copa e ganhou caráter quase mitológico, ao longo dos tempos, sendo até tema de filme.
E mais difícil ainda foi esquecer as quartas de final, no Goodison Park de Liverpool. Em vinte e cinco minutos, os asiáticos e sua grande velocidade haviam imposto 3 a 0 em nada menos do que Portugal, já àquela altura uma sensação no Mundial. Mais impressionante: no fim daquela etapa inicial, os norte-coreanos já haviam permitido a diminuição para 3 a 2. Portugal venceria por 5 a 3, é sabido, num dos jogos mais impressionantes que já se viu nas Copas. Mas a Coreia do Norte havia ido muito mais longe do que imaginara.
A seleção continuou sua história. Mas, de relevante, só conseguiu um quarto lugar na Copa da Ásia, em 1980. De resto, o time retirou-se das Eliminatórias para 1970 e 1978, e sequer entrou na qualificação para 1998 e 2002. Ah, sim: houve mais uma participação, na Copa da Ásia de 1992, quando a equipe não passou da primeira fase. Isto é, tornou-se, no mínimo, muito difícil lembrar do futebol norte-coreano sem lembrar de 1966. Até pelo fechamento do país para o mundo ocidental, integrado, como em tantas outras coisas, no futebol.
Todavia, algumas campanhas que passaram em brancas nuvens, nesta década, já apontavam que algo poderia acontecer. Ou o terceiro lugar na Copa do Leste Asiático, em 2005. Como o terceiro lugar na Challenge Cup da confederação asiática, em 2008. Mas, de fato, ainda era pouco. Uma eventual evolução deveria ser comprovada nas Eliminatórias para a Copa de 2010.
Vencer a Mongólia, na primeira fase, nem foi tão difícil. O desafio viria com o grupo 3, na terceira fase, quando o time ficou ao lado da rival Coreia do Sul. Rival também fora de campo, como se viu no primeiro encontro, que teve de ser jogado em Xangai, já que os norte-coreanos recusavam-se a executar o hino e a estender a bandeira da nação do sul em Pyongyang.
Mas os Chollima seguiam, devagar e sempre. Vitórias sobre a Jordânia, dentro e fora de casa, e Turcomenistão (esta, só no Kim Il-Sung) levaram a equipe a passar pela chave invicta, e empatada em pontos com os sul-coreanos. Chegava, enfim, a tão sonhada última fase.
Ali, a derrota para o Irã, na terceira rodada, interrompeu a invencibilidade que já durava dez jogos. E a derrota para a Coreia do Sul, na penúltima rodada, fez com que a Arábia Saudita, já vencida por 1 a 0, se aproximasse perigosamente, na disputa pela segunda vaga direta do grupo B. Porém, em Riad, na última rodada, o time mostrou uma abnegação comovente - notada pela atuação extraordinária do goleiro Ri Myong-Guk, que defendeu tudo.
E, finalmente, após 43 anos, estava assegurada a volta a uma Copa, aparentemente inimaginável. Que contou com um meio-campo bem equilibrado, com Pak Nam-Chol indo bem na marcação e tendo bom passe, para que Ahn Young-Hak arme as jogadas. Mas a questão fica: como está a Coreia do Norte? Com amistosos esparsos e pouca divulgação, a resposta será dada mais concretamente na África do Sul.